sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Facilitando a comunicação para Autistas: Uso de PECS

A psicóloga Mariza Machado do blog ESTAR DEFICIENTE, gentilmente, cedeu a esse blog informações sobre o seu mais novo artigo “Facilitando a comunicação para Autistas: Uso de PECS”. O artigo foi dividido em duas partes pelo blog Deficiente Ciente. Não deixem de ler, pois trata-se de informações valiosas para pais e educadores.
Quando falamos em comunicação, a primeira idéia que se tem é a da fala. Através dela nos relacionamos com o mundo, manifestamos nossas vontades e desejos, trocamos informações e sentimentos e permitimos ao outro nos conhecer e sermos conhecidos. Mas a comunicação não se restringe as palavras. Ela é muito mais complexa do que apenas a emissão de sons coerentes. Nós utilizamos também de outros recursos não-verbais como os gestos e expressões faciais e corporais que transmitem várias outras informações que as palavras não alcançam.
Em certas deficiências podemos encontrar dificuldades de expressão ou de fala. Alguns podem possuir boa compreensão, contudo não conseguem falar ou mesmo expressar suas vontades de forma que “todos” entendam. Toda mãe sabe, de antemão, o que seu filho deseja apenas observando certos sinais não verbais. Uma mãe me relatou que entendia tudo que seu filho queria, mesmo que não falasse. Ele se comunicava, relatava a mãe. Quando queria água, por exemplo, pegava sua caneca azul e batia na pia, onde o filtro de água ficava, sendo atendido prontamente. Quando queria fazer xixi abaixava as calças e corria de um lado para outro e era levado imediatamente ao vaso sanitário. Bem, apenas com esses dois dados deu para perceber que ele tenta se comunicar com a senhora, respondi. Mas e se ele estiver na minha casa e não tiver uma caneca azul ou o meu filtro de água não ficar em cima da pia? E se ele quiser ir ao banheiro quando estiver no Supermercado? Minha mãezinha respondeu? “- Ele não sai de casa! Ele fica nervoso fora do seu ambiente”. A comunicação deve propiciar a independência, os relacionamentos e a aprendizagem. De que adianta eu mãe, irmão ou família entender o que um membro deseja? E se por ventura a família não puder estar por perto?
Muitas famílias resistem à idéia de um outro sistema de comunicação que não seja a fala. Acreditam que se facilitarem a comunicação através de outros meios vão desestimular a fala ou mesmo substituí-la. Nesse sentido, é sempre bom lembrar que, ao utilizarmos uma outra forma para a comunicação, não queremos substituir a fala, mas contribuir para que a comunicação ocorra e consequentemente a fala. A comunicação alternativa, suplementar ou ampliada enfatiza formas alternativas de comunicação visando dois objetivos: promover e suplementar a fala, garantindo uma forma alternativa de comunicação para um indivíduo que ainda não começou a falar.
Vários podem ser os sistemas alternativos de comunicação, mas há fatores a serem considerados na escolha da melhor forma de comunicação para cada criança ou jovem. Podemos utilizar um sistema específico ou a combinação de vários. Não há padrão! Cada criança ou jovem é que irá nos mostrar o melhor meio a utilizar. Contudo devemos considerar na escolha:
  • necessidades e preferências da criança e/ou família,
  • estilo de aprendizagem da criança,
  • uso funcional da visão e audição,
  • habilidades perceptivas,
  • nível de atenção,
  • atenção tátil,
  • habilidades cognitivas,
  • habilidades físicas,
  • habilidade do profissional nos vários modos de comunicação.
Comunicação é uma área muito difícil para os autistas. Algumas características dos autistas dificultam a sua comunicação como a distração, a dificuldade de processar instruções orais, manter atenção e organizar informações que estão recebendo. Também têm dificuldade de processar os cincos sentidos (tato, visão, audição, paladar, olfato) de uma só vez, ou mesmo de utilizar mais que um deles de cada vez (integração sensorial). Esta inabilidade de ser compreendido afeta o comportamento podendo gerar maneiras inapropriadas para se comunicar como bater a cabeça, gritar, ou manter hábitos indicadores típicos do autismo. Conseqüentemente, se você estabelecer uma maneira de manter a comunicação, poderá eliminar muitos problemas de comportamento.
O autista ou qualquer pessoa que não fala, precisa encontrar um caminho para se comunicar e, com isso diminuir sua frustração, trabalhar a socialização e seu crescimento como ser humano.
Benefícios da utilização da Comunicação Alternativa ou Suplementar:
  • ajuda crianças sem linguagem, ou uma linguagem não funcional, a ter uma “voz”,
  • desenvolve a compreensão da comunicação,
  • desenvolve o encorajamento para a fala,
  • reduz a frustração e comportamentos inapropriados,
  • faz com que as escolhas sejam positivas,
  • desenvolve o uso da estrutura da linguagem,
  • pode ser aplicado por todos os que rodeiam a criança,
  • abertura de leques de escolhas.
Quem pode se beneficiar?
  • Pessoas sem discurso verbal,
  • Pessoas que têm uma linguagem pouco estruturada,
  • Pessoas com autismo,
  • Crianças que ainda não desenvolveram um discurso para além da palavra chave,
  • Crianças que exibam comportamentos inadequados por não conseguirem se fazer entender.
PECS( Picture Exchange Communication System) – Sistema de Comunicação por Figuras
O PECS foi desenvolvido nos EUA pelo psicólogo Andrew Bondy e pela fonoaudióloga Lori Frost em 1996 e adaptado para o Brasil pela fonoaudióloga Cátia Crivelenti de Figueiredo Walter em 1998. Bondy e Frost queriam encontrar uma maneira de ajudar as crianças com autismo a se comunicarem de uma forma funcionalmente fácil, socialmente aceitável e que pais e outras pessoas pudessem aprender sem dificuldades, dando à criança a possibilidade de se tornar mais integrada socialmente e ao mesmo tempo mais independente.
PECS é um sistema de comunicação por troca de figuras que consiste em um modo alternativo e rápido de instalação de comportamento verbal. O método é baseado nos princípios da Análise Experimental do Comportamento e tem sido eficaz no treinamento de comunicação funcional de pessoas com traços autistas (Bondy & Frost, 2001).
O PECS foi originalmente desenvolvido para crianças do espectro do autismo em idade pré-escolar, mas está atualmente sendo usado por crianças e adultos com transtornos do espectro do autismo e outros diagnósticos que apresentem dificuldades com a fala e a comunicação.
O PECS é dividido em 6 fases. Na 1ª fase, o objetivo é o de permutar a figura. A troca aqui é totalmente assistida e necessariamente não precisa ser uma figura. Pode ser um objeto concreto. Mais tarde a criança aprende a generalizar essa habilidade de forma que possa se comunicar com pessoas diferentes, em diferentes lugares e por diferentes motivos. Futuramente, algumas crianças poderão produzir sentenças com as figuras em uma “tira” de sentenças expandindo seu vocabulário. Estas imagens podem ser fotos dos objetos verdadeiros ou desenhos dos mesmos; um sistema de símbolos muito utilizado (nacional e internacional) é o Boardmaker, um «dicionário» de imagens e símbolos em suporte informático, que permite criar os símbolos.
O PECS dá à criança a possibilidade de expressar suas necessidades e desejos de uma maneira muito fácil de entender. Muitas crianças que começaram a utilizar o PECS também desenvolvem a fala como um efeito colateral, claro que é um efeito colateral ansiosamente esperado!
Muitas crianças aprendem o intercâmbio fundamental no primeiro dia de treinamento. Um aspecto importante do PECS é que são as crianças que iniciam o processo de comunicação (são elas que iniciam a interação).
Elas aprendem a não esperar ou depender dos adultos para comunicar-se. Elas, imediatamente expressam suas necessidades aos adultos que podem satisfazê-las. Aprender o PECS também tem conseguido um dramático efeito de reduzir as preocupações pelo manejo do comportamento destas crianças, tanto nas escolas como em casa.

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