terça-feira, 22 de setembro de 2015

Autismo na real

Conheçam Nataly Pessoa

Nataly Pessoa
Conheçam Nataly Pessoa, autista de 28 anos. Nataly estuda Direito e administra o blog Espaço Autista. Sempre ativa no mundo virtual, bem como no real, Nataly também administra a fanpage Espaço Autista  e um grupo que tem o mesmo nome. Além de administrar as páginas na Internet, é membro da ABRAÇA. Vislumbrem como esta menina autista se tornou uma mulher independente e forte. Veja um pouco através da visão de uma autista que não desiste jamais.

            Recebi meu diagnóstico de Síndrome de Asperger aos 25 anos de idade, após dois anos de tratamento com meu primeiro psiquiatra. Só demorou, porque a síndrome é mais difícil de diagnosticar em meninas, quando o grau não é severo. Resolvi procurar um psiquiatra, porque sempre me achei diferente das outras pessoas em alguns aspectos, já em outros não.
          flappings nas mãos, que inclusive tenho até hoje, e por começar a falar com quase quatro anos de idade.
  Fui diagnosticada em abril de 2011. No início tudo era novo para mim, mas já pressentia que tinha algo de estranho comigo.  Tive que trancar a faculdade, visto que não estava conseguindo me interagir com os colegas da turma. Confesso que até sofria rejeições por parte de alguns colegas, devido à ignorância. Foi um ano de conhecimentos e também muito delicado, então, resolvi me cuidar mais e fazer terapias.    Meus pais ficaram sentidos no inicio, pois nunca imaginaram que pudessem ter uma filha autista, mas nunca me rejeitaram e sempre estiveram presentes em tudo. Sempre foram, juntamente com meu irmão, meus grandes amigos e, até hoje, eles são tudo para mim. Minha mãe é a amiga de todas as horas. Sem ela, tudo seria muito mais difícil. Quando eu era pequena, ainda morando no estado de São Paulo, fazia terapias com uma psicóloga. Na época, anos 90, ela nem desconfiou do meu comportamento típico em alguns autistas, como
            Quando recebi o diagnóstico, eu e meu noivo já estávamos juntos e, até hoje, ele está sempre presente em todos os momentos, sejam estes tristes ou alegres e ele é o amigo que me ouve e me conforta quando estou em crise. Quando fui diagnosticada, ele me disse: “Não vai mudar em nada nossa convivência. Eu te amo do jeito que você é e pela pessoa especial que você é.”.
            Tê-los ao meu lado faz toda a diferença, pois o apoio é importante para que eu continue em minha jornada. Alguns parentes me apoiam diretamente, outros são silenciosos e não sei se esse silêncio significa apoio ou rejeição. Porém, não me importo com isso, o importante é ter gente que gosta de mim como sou ao meu lado. Essas sim fazem a diferença. Com o apoio da minha família e com meu jeito de ser, sempre frequentei a escola regular e nunca repeti de ano. Hoje, estou cursando a faculdade.
            Depois que fui diagnosticada, muita coisa mudou. Confesso que mudou para melhor, pois hoje
entendo quando passo pelos meus processos de crises e sei procurar como sair desses momentos. Antes, muitos diziam que tudo era frescura e eu ficava muito triste com isso. Diziam assim: “Ah! A Nataly tem aquele jeito dela!”. Eu ia muito para hospitais, pois criava muitos sintomas que não existiam. Hoje entendo que era uma forma de eu pedir ajuda e não sabia como me expressar, meus pais sofreram muito comigo. Agora, não sei nem o que é entrar num hospital e tomo medicações, quando necessário.
            Uma das minhas maiores conquistas no ano passado foi a de ter passado num concurso público em Brasília e ter voltado para o meu curso de Direito, que tanto amo. Depois de diagnosticada tudo começou a fluir, descobri que nós autistas temos muitos talentos e somos muito determinados no que nos propomos a fazer. Na faculdade, estou obtendo ótimo desempenho e minha convivência social melhorou muito, devido aos benefícios da psicoterapia cognitiva comportamental. Estou conseguindo fazer boas amizades. Outra conquista marcante foi com o meu projeto através do meu blog, estou sendo muito abraçada por diversas pessoas pelo Brasil e até mesmo fora.
            Antes do diagnóstico, me sentia um pouco fracassada, pois tudo o que começava a fazer, como cursos e empregos, eu interrompia logo, pois não me adaptava. Sentia-me uma impotente pelo fato de ter terminado o ensino médio em 2003, ver meus amigos se formarem logo e eu não. Hoje vejo que tudo será no tempo certo e de acordo com o meu processo de desenvolvimento.
          
  Não há cura para o autismo e acredito que a grande contribuição para a síndrome seja o fator hereditário. Sou a prova disso, pois tem autistas na minha família. No entanto, as boas terapias são grandes aliadas e têm extrema importância, pois melhoram, e muito, nossa qualidade de vida social e profissional. Tenho momentos bons e ruins, mas convivo com tudo e vou me superando sempre mais.
            Um dos momentos mais tristes foi quando entrei num estado crítico de crise em 2009 e eu ainda não era diagnosticada. Tive que trancar um outro curso universitário e comecei a ter vários sintomas psicossomáticos. Fiz vários exames clínicos e vivia indo para hospitais. Fiquei durante dois meses sem sorrir e interrompi as aulas de reforço que lecionava em casa. Até que descobri meu psiquiatra que me salvou! Eu o chamo de anjo.
            
E um momento feliz, sem dúvida, foi a aprovação no concurso público em Brasília-DF. Foi engraçado e também muito emocionante, pois quando recebi a notícia da aprovação, estava numa aula da faculdade. Devido à minha enorme ansiedade, eu levei o meu notebook para sala de aula e ficava entrando na página da organizadora do concurso o tempo todo! Quando vi meu nome como “Aprovada”, olhei para a professora e disse quase gritando: “ Passeeeeei!!!” Ela ficou muito feliz e compartilhou a notícia com todos em sala. No mesmo instante assumi para a turma toda que eu era autista e fui muito aplaudida. Lembro-me das palavras da professora: “Você está sendo uma lição de vida para muitos de nós.”
            Experiências boas, como esta, e outras experiências com preconceito e discriminação foram as minhas fontes de inspiração para lutar, criar e manter o blog. Já fui até discriminada num hospital particular daqui de Natal-RN, pois a recepcionista disse que autismo não era caso de preferencial, pois não é deficiência, depois de mais de duas horas esperando para ser atendida.

            Mas as experiências ruins não me derrubaram e sou muito feliz. Amo ser uma autista e sei que isso não é barreira para deixar de lutar pelos nossos objetivos. Acredito ser de extrema importância saber sobre o autismo, principalmente os profissionais da área da saúde e da educação. Fico muito triste em saber que parte desses profissionais, não sabem praticamente nada da síndrome ou muitos não têm o mínimo interesse de se informar a respeito.
Nataly Pessoa

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