terça-feira, 22 de setembro de 2015

Realidade de um autista.

Conheçam Magda Gonçalves

Magda e a linda Giovanna
Conheçam Magda Gonçalves, mãe da linda Giovanna Nicole, autista de 07 anos.
Magda traz em seu relato a doçura e o equilíbrio que as mães precisam ter para conseguirem superar as dificuldades com seus filhos autistas. Não importa as bordoadas que ela tomou em sua jornada, pois a cada tombo, vinha uma vitória. Magda guardou seu luto por 03 dias. Dali em diante, transformou seu luto em coragem e levantou-se para combater o que a estava abatendo. Conheçam mais uma história de superação e felicidade.


Quando Giovanna completou 01 ano e meio, começamos a perguntar constantemente ao pediatra o porquê de nossa filha ainda não falar e não apontar. Como ela só começou a andar neste período, o pediatra nos pediu calma e que “ela estaria mais para um fusquinha”. Ele fez a seguinte comparação: “Tem crianças que são Ferrari e outras, fusquinha. Talvez leve mais tempo para as coisas acontecerem.” E pediu para que ficássemos tranquilos, pois iria dar tudo certo.
Mas aos 2 anos a Giovanna continuava no mesmo quadro: sem falar, sem apontar e brincávamos com ela, mas ela parecia que não nos via. Insisti com o pediatra, até que ele nos encaminhou a um neuropediatra, o qual nos pediu uma série de exames. Porém, nada apareceu para que pudéssemos considerar um problema genético, físico ou mental.
O diagnóstico só veio quando Giovanna já estava com 06 anos, há cerca de um ano e meio, por uma psiquiatra infantil. Ele a diagnosticou como portadora de patologia crônica F.84.0: Autismo Clássico.
Ao ver que os resultados dos exames não indicavam nada, o neuropediatra disse que o comportamento da Giovanna era o de uma criança autista. Foi um momento muito difícil! Lembro-me que eu estava acompanhada da minha irmã que ficou assustada e ao mesmo tempo muito preocupada comigo, pois a minha reação era de anestesia. Naquele momento não consegui demostrar nenhuma emoção, só fiquei totalmente calada… Falar o que de algo que eu não tinha nenhuma noção do que se tratava? Cheguei em casa, tomei um banho e aí eu desabei! Chorei muito e, por três dias, fiquei completamente sem chão. Quando minhas fichas começaram a cair, me toquei que eu precisava começar e, para começar, eu precisava saber o que era o autismo. Comecei a procurar informações pela Internet e procurei outros pais. Vi que minha caminhada seria muito longa e árdua! O que eu não sabia era o quanto eu iria aprender com minha filha. Meu lindo presente AZUL!
Ao mesmo tempo, tinha alguns amigos e familiares que reagiram com pena, talvez por não saberem do que se tratava. Eles achavam que a Giovanna iria ficar totalmente debilitada e dependente por toda vida, o que me fazia mais forte, pois quanto mais eu procurava informação para explicar a eles sobre o autismo, mais informação eu tinha de que minha filha seria capaz de superar essa luta!

Após receber o diagnóstico, eu ainda trabalhei por 02 anos mas, devido ao tratamento multidisciplinar, o qual requer atenção de vários profissionais, escolhi deixar minha vida profissional para me dedicar a ela. Hoje, quem me ajuda com a Giovanna é minha filha de 18 anos e meu marido. Atualmente, ela frequenta escola municipal, o que também ajuda  muito no desenvolvimento dela.
Ainda enfrento algumas dificuldades em lugares públicos, como supermercados e shoppings, ou lugares muito movimentados e com muito barulho, mas estamos trabalhado por uma qualidade de vida cada vez melhor para a Giovanna. Vejo que sua capacidade de compreensão melhora a cada dia e já temos alguns progressos, tais como ir a um restaurante e explicar que se ela se comportar vai ganhar batatinha frita. É claro que o tempo nos limita e ainda não podemos ficar  nestes ambientes por muito tempo, mas, aos poucos, e com muito trabalho, estamos no caminho para atingir nossos objetivos.
Acredito que nossa maior conquista até o momento foi o fato de ela identificar, através de fotografias, sua família. Como Giovanna tem pouca verbalização, vê-la conseguir, mesmo que com dificuldades, identificar o Pai Alexandre e a Mãe Magda (é assim que ela nos chama) entre outros integrantes da família, foi muito gratificante! Ela também teve um avanço na escola e já chama cada amiguinha e as tias pelo nome.
Às vezes me sinto impotente e sinto algumas frustrações, principalmente quando não consigo entender o que ela quer e aí ela fica muito irritada. Neste momento, me sinto frustrada! Isso não acontece com muita frequência e geralmente consigo interpretar e resolver.
Analisando a experiência que temos com o autismo e os relatos aqui colocados, acredito que exista um progresso e que, se estimulado o quanto antes, o indivíduo terá maior oportunidade de melhora e até mesmo de sair do espectro e assim obter a cura. Mas acredito que o remédio para o autismo seja o amor, a paciência e muita dedicação!
Não sei dizer qual a causa para o autismo, mas ouço falar em muitas fontes causadoras, no entanto, poucas são cientificamente comprovadas. Eu acredito, por dedução, que o autismo possa ser genético, mas nunca ouvi falar que seja comprovado cientificamente.
Independente da causa, tenho muitos momentos felizes e procuro aproveitá-los. Cada pequena conquista, como ganhar um beijo dela sem pedir, vê-la pegando o copo azul em cima da pia ou pedindo pão na sessão de fonoaudiologia, ou, ainda, ouví-la cantar suas músicas preferidas da galinha pintadinha…  Isso tudo é demais!
Certa vez, a Giovanna sumiu! Procuramos pela casa toda e nada. O portão estava trancado, então deduzimos que ela poderia ter pulado o portão, pois não havia mais onde procurar. Já tínhamos chamado a polícia e eu já estava desesperada. Quando fui novamente procurar dentro do carro, que era um fusquinha, lá estava Giovanna: debaixo do banco do motorista, quietinha. Eu já tinha procurado no carro, mas não a tinha visto lá embaixo. Primeiro, dei graças a Deus e, depois, ri muito, pois a situação nos fez chamar até a polícia!
Isso ajuda a amenizar os momentos tristes como, por exemplo, o dia em que ouvi uma pessoa próxima perguntar por que eu me esforçava tanto para que Giovanna aprendesse a ler e a escrever já que ela nunca iria para uma faculdade e também nunca teria uma profissão. Naquele momento eu percebi o quanto algumas pessoas são preconceituosas e sem informação. Apesar da tristeza que me abateu no momento, aquele comentário me trouxe ainda mais o desejo de ver minha filha alfabetizada, luto muito para isso e sei que vamos conseguir! 
Sempre procurei me informar através de livros, palestras, oficinas etc. É sempre bom estar em contato com pessoas que sabem sobre o assunto e sempre que posso procuro participar de palestras e me envolvo com ações voltadas pela causa do autismo. Estar envolvida, sempre me traz experiência pois, convenhamos, não é do dia para noite que conseguimos saber de um assunto tão complexo. Como lidar, como tratar, com quais profissionais tratar... Isso leva tempo! É por este motivo que, quanto mais nos envolvemos, mais vamos nos moldando. Dessa forma, sinto-me muito mais informada e segura ao falar do autismo da minha filha. Considero-me muito FELIZ e a mensagem que eu deixo é que nunca devemos desistir de um sonho. Se hoje ele parece estar longe e parece ser impossível é porque não chegou a hora. Não deixe de lutar! Na hora certa as coisas vão fluir. E como é bom poder curtir cada momento, cada ato por menor que seja. Não deixe as decepções da vida tirarem esses momentos tão precisos que virão.

Talvez você esteja passando por momentos de muita angústia, talvez por não saber o que fazer com uma criança que não te responde e é tão distante do nosso mundo, mas acredite em Deus! Ele tem um propósito em todas as coisas. Ele me ensinou muito através da minha filha e ainda tenho muito o que aprender com ela. Ser mãe ou pai de uma criança especial é ter nas mãos a oportunidade de nos transformar em uma pessoa melhor. Sempre temos algo a melhorar e essas crianças têm as chaves para isso, acredite. Confie em Deus e nunca se esqueça de que nós precisamos de ajuda e que também precisamos de cuidado e de um tempo para nos cuidar. Não importa se este tempo seja pouco, o que importa é que seja um  tempo de qualidade! VIVA BEM...



Giovanna Nicole

Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada.

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