terça-feira, 22 de setembro de 2015

Historias de autistas

Autismo e família - Nossas histórias

Marcos Antonio da Silva Filho


Marcos e João
Conheçam Marcos Antonio da Silva Filho, 16 anos, estudante do 03º Ano do Ensino Médio. Marcos é irmão de João Pedro, autista de 06 anos. Ele é aquele “irmão herói”, amigo, leal, companheiro e paciente que ajuda a cuidar de seu irmãozinho autista. Marcos ajuda seus pais em tudo e, se depender dele, nunca faltará nada para o João, pois amor é o que ele tem de sobra por seu anjinho azul. Com uma responsabilidade e um senso de realidade invejáveis para seus 16 anos, Marcos é um garoto que desenvolve suas atividades perante o autismo com muito amor e sensibilidade. Ajuda seu irmão em tudo, inclusive em seus deveres escolares. Ajuda também a dar banho, remédios e ainda tem a fama de cuidar do irmão melhor do que ninguém! Marcos é um exemplo a ser seguido por familiares de autistas e um exemplo de ser humano. Adolescência não é sinônimo de chatice e irresponsabilidade, se depender deste grande garoto!

      João Pedro foi diagnosticado como autista aos 04 anos de idade, ou seja, há cerca de 02 anos. Foi nesta época que recebemos seu diagnóstico de Síndrome de Asperger. Quando meu irmãozinho nasceu para mim foi um presente, pois eu sempre quis ter um irmão. Logo, quando ele veio ao mundo, fiquei muito feliz e realizado. Isso tornou o fato de conviver com ele, mesmo sendo autista, fácil. Não vejo dificuldades em conviver com João e o considero uma criança como outra qualquer, claro que há algumas limitações, mas, com o tempo, acabamos nos acostumando e a vida segue normal. Hoje, posso garantir que, ao menos para mim, é fácil ter uma criança especial em casa.
Marcos e a super mãe, Lorena Prado
      Apesar de ser mais velho que João, eu nunca tive ciúmes com a chegada do meu irmão e sempre compreendi a situação após termos seu diagnóstico. Pode até parecer estranho, mas não me assustei ao saber que meu irmão era autista. No primeiro momento, quando recebi a noticia, eu não entendi muito bem porque eu nunca tinha ouvido falar sobre autismo, mas depois minha mãe, Lorena Prado que gerencia o grupo “Autismo Jataí-Goiás” na Internet, foi me explicando e eu entendi qual era sua condição. E mesmo depois de saber e entender o que era o autismo, fiquei tranquilo, porque desde pequeno minha mãe sempre me influenciou a ter uma religião e acho que isso que me deu mais força e me ajudou a não me revoltar. Aliás, não só para mim, mas para minha família inteira, pois acreditamos que tudo que acontece é para um bem maior. Se ele veio com autismo é por alguma causa. Talvez para que houvesse alguma mudança em nossa casa, na nossa família ou no nosso próprio jeito de viver. Então, eu acho que por estar apegado à religião não me assustei e não me assusto até hoje. E continuamos a trilhar este caminho. É nossa fé que continua a nos guiar e nos dar forças para que a gente não desista e consiga aceitar a realidade de uma forma calma e tranquila.
      Apesar de ainda novo, pois eu estava com uns 14 anos, fui me adaptando junto com meus pais e com o João. Fazíamos as descobertas e as adaptações juntos para depois passar isso tudo para o restante da nossa família que convive conosco nos finais de semana. Fazíamos isso, porque acreditamos que todos da família têm que se adaptar e aceitar que ele é especial. Eu acredito que os autistas possam ter qualidade de vida e é por isso que muitas crianças vivem passando por terapias e por multiprofissionais, para que, no futuro, elas possam ser independentes e consigam fazer sua própria evolução. Em minha opinião, toda evolução, por menor que possa parecer, e todo meio passo andado, já é uma conquista. Mas acho que a maior de todas as conquistas é ver meu irmão convivendo com algumas pessoas e saindo de casa, indo ao Shopping Center, ou a algum restaurante mais movimentado. Para alguns, isso pode parecer super normal, mas antes ele não fazia nada disso, já hoje em dia, ele faz com a maior naturalidade do mundo.
      O que me deixa ainda mais feliz é vê-lo progredir. Eu acho que ele está no caminho certo, fazendo suas terapias, indo à escola, etc. Só consigo ver progressos em meu irmão e isso é o que afasta qualquer probabilidade de frustração. Sou feliz com meu irmão!
      Eu não tenho a mínima noção de qual seria a causa do autismo, mas eu acho que é algo que pode ser contornado e melhorado e, quanto mais cedo o tratamento, maiores as chances de a criança ser independente. Mas também não acredito em cura, pois são tantos anos de estudos e até hoje não foi encontrado nada. Eu acredito que não vai ser agora que vamos encontrar, mas vamos torcer, né!
      Torço para que isso aconteça devido a alguns momentos que são angustiantes, como por exemplo, algumas vezes que ele está em tremendo desespero por causa de chuvas, trovões e raios. Me deixa muito triste ver que aquilo o incomoda tanto e ele fica apavorado, o que acaba nos deixando muito agoniados, pois nada que fazemos ajuda a melhorar. É triste vê-lo mal e sofrendo.
      Ao mesmo tempo, cada evolução dele, cada passo além que ele dá, já nos deixa felizes. Ver sua interação com outras crianças, brincando, correndo, conversando… Tudo isso já me deixa muito feliz, porque ele não fazia nada disso e, hoje, já vemos a melhora a partir de pequenas coisas.
      Além de toda nossa alegria, ainda tem os momentos engraçados, porque sinceridade é o que não falta no meu pequeno! Mas o que ficou mais marcado em minha memória e que me faz rir até hoje, foi um dia em que estávamos em um restaurante e chegou uma jornalista da TV local que começou a conversar com minha mãe e foi conversar com ele. Na hora de se despedir a jornalista virou para meu irmão e disse:
      - Depois você peça à sua mãe para ligar a TV para você ver meu programa.
      Ele, com a resposta na ponta da língua, virou e falou para ela:
      - Eu não quero não, obrigado!
      Não teve quem não risse! Estes momentos de sinceridade são os mais legais.
      Minha fonte de inspiração não foram livros, filmes, palestras, nem nada disso. Minha fonte de inspiração foi minha mãe, porque eu nunca tive paciência de ler, até porque acho uma linguagem muito difícil, muito para médico. Então ela lia, via os filmes e o que ela aprendia ela me passava com uma linguagem mais fácil e de maneira que eu poderia entender, então tudo que eu aprendi eu devo a ela.
      Eu me sinto feliz, aliás MUITO feliz! Ele é uma criança especial, que veio à nossa casa, nos aproximou mais e nos fez procurar meios para que ele melhorasse. E tenho certeza de que ele também é feliz. Não importa se ele é autista ou não, pois é acolhido com carinho por onde passa e todos cuidam muito bem dele. Ele é um amor e qualquer um se apaixona por ele. E não é porque ele é meu irmão, mas ele realmente é apaixonante!
      Eu gostaria de dizer a todos que cuidem dessas crianças com todo amor e carinho, porque elas vêm a nossa vida com um propósito e realmente mudam tudo para melhor. Não escondam os filhos por eles serem autistas, eduquem e façam deles crianças felizes e o mais independentes possível.
      Só quero dizer que ter um irmão autista não mudou em nada minha vida, aliás, até mudou sim, mas foi para bem melhor, pois cada dia que passa e o vejo sorrindo, cheio de amor e carinho para nos oferecer, é mais um dia de alegria. Com ele, eu aprendi que não temos que ficar reclamando da vida sem motivo, pois pessoas com muito mais problemas (não que seja mais grave, ou menos grave) acorda e dorme com um sorriso nos lábios. Então, se eles podem sorrir, todos nós que temos esses anjinhos azuis em casa, podemos sorrir também. Um abraço azul a todos.
Marcos e seu anjo azul
Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada.

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