quinta-feira, 10 de setembro de 2015

AUTISMO: EM BUSCA DE TRATAMENTO ADEQUADO


Depois que os pais/responsáveis estão com o laudo contendo o diagnóstico atestando que a criança é autista, o primeiro passo é buscar tratamento. Digo isso porque quanto mais cedo a criança for adequadamente tratada, com estímulos apropriados, maiores chances ela possuirá de obter um desenvolvimento mais satisfatório.
Acontece que nos primeiros anos de vida, a criança está em plena condição de absorver conhecimento. De acordo com Fábio Barbirato, coordenador do Serviço de Atendimento e Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, “quando a intervenção é realizada em crianças menores de três anos, a melhora é de 80%. Aos cinco anos cai para 70%...” (site Autismo e Realidade). Veja que, embora a criança/adolescente deva ser apropriadamente tratada em qualquer idade que esteja, nos primeiros anos ela tem maiores condições de atingir o ápice da meta do tratamento.
Quando desconfiei que meu filho era autista, o coloquei na natação e na música com um ano de idade. Sabia que estas duas atividades poderiam auxiliar na questão da atenção, interação social e psicomotricidade. Na época do diagnóstico ele estava com um ano e meio. Imediatamente procuramos uma fonoaudióloga e conseguimos que fosse atendido na Associação Pestalozzi de Goiânia. Lá, até hoje ele frequenta aulas de pedagogia e psicomotricidade.
Também fomos atrás de outras terapias. O neuropediatra explicou a importância de trabalharmos as três áreas de dificuldade da criança: cognitivo, funcionalidade e comunicação. Passamos a ir à psicóloga e ela iniciou a aplicação do método conhecido como ABA (Applied Behavior Analysis), que significa análise do comportamento aplicada. A criança é atendida no consultório pela psicóloga e em casa pela atendente terapêutica (A. T.) que pode ser uma universitária treinada para aquela atividade. Neste ínterim, também destacamos uma terapeuta ocupacional e um equoterapeuta para compor a equipe.
Calha dizer que montar uma equipe é dispendioso e não é fácil. Encontrar terapeutas experientes e direcionados à questão do autismo não é tarefa simples. Ocorre que o número de terapeutas está muito aquém do de autistas. Percebo que os bons profissionais estão abarrotados de pacientes e recebem telefonemas diários de pais desesperados atrás de tratamento para seus filhos. Tenho conversado muito com estudantes e profissionais para que se dediquem a esta causa. Primeiro porque a comunidade precisa de um número maior de terapeutas e segundo porque, desde que preparado com seriedade e dedicação (muito estudo e atualização), o psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, pedagogo, psicomotricista, educador físico... pode auferir um bom número de atendidos e se firmar no mercado profissional.
Com relação à rede pública, em Goiânia, as crianças/adolescentes autistas são atendidas, principalmente, na Associação Pestalozzi, APAE e CRER. No entanto, infelizmente, dado o grande número de pacientes nesta condição, estas instituições não conseguem absorver toda a demanda. Desta forma, vislumbra-se uma fila de espera marcada pela angústia de famílias que sofrem com a dor de ter uma criança/adolescente sem tratamento em casa.
É importante ressaltar que não existe um autista igual ao outro. Embora tenham as mesmas características, eles são muito peculiares. Por exemplo, meu filho convive com várias crianças que, como ele, possui dificuldades de comunicação e interação social, bem como comportamento/imaginação peculiar, no entanto, dificilmente posso detectar uma extremamente parecida com ele. 
Em 2013 (DSM V) convencionou-se que existem três tipos de autismo: grave, moderado e leve. Dentro destes três graus existem variações. Explico: diante de vários autistas graves podemos perceber que alguns possuem mais dificuldades que os outros. Bem assim os demais, digo leves e moderados, pois suas dificuldades são distintas. Alguns conseguem falar, outros não. Outros conseguem manter uma convivência escolar satisfatória, outros não. Parte passa despercebida em um ambiente casual, como um restaurante, e outra não. Independente do grau, a criança/adolescente autista precisa receber tratamento adequado, marcado por estímulos apropriados à sua necessidade, para que possa obter desenvolvimento, seja em baixa ou larga escala. 
Não é simples conseguir as terapias, consultas e atendimentos necessários, assim como, quando possível de ser atendido, não é fácil para o pai/responsável acompanhar a criança/adolescente. Afinal, são atendimentos realizados em horários comerciais, o que impede, na maioria das vezes, que o acompanhante trabalhe em período integral ou mesmo tenha um emprego. Geralmente, as mães abdicam de suas vidas profissionais e dedicam-se exclusivamente ao filho, tendo em vista a necessidade de acompanhá-lo no tratamento ou de permanecer junto a ele 24 horas por dia, quando falamos de um grau considerado grave.
Psicólogo, atendente terapêutico, ABA, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, equoterapeuta... Muitos são os profissionais que podem melhorar a qualidade de vida das crianças/adolescentes autistas. No entanto, é importante certificar-se que o terapeuta esteja apto a atender o autista, pois se trata de um paciente peculiar, ímpar, com entendimento limitado e que carece de especialização para ser devidamente tratado.
Por fim, é importante destacar que a criança/adolescente deve ser periodicamente assistida por um neuropediatra que analisará os avanços conferidos pelos tratamentos, bem como frequentar um odontólogo que possua experiência no atendimento às pessoas com deficiência. Infelizmente, pela rede pública, a espera é longa e desgastante. A fila é quilométrica. No entanto, é relevante pontuar que isso não pode sufocar o desejo de ver aquela criança/adolescente desenvolver-se. Frequentar reuniões de pais ou mesmo audiências públicas pode ser uma alternativa para exteriorizar as insatisfações e procurar saber se o seu representante junto ao legislativo está fazendo algo pelas pessoas com deficiência. Ressalte-se que o CENSO 2010, de responsabilidade do IBGE, atestou que 23,9% da população possui algum tipo de deficiência.
*Tatiana Takeda é mãe de uma criança com autismo, advogada, professora universitária, servidora pública, mestre e especialista em Direito e especializanda em Autismo.

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