A atualidade do pensamento
“Conhecer o humano não é separá-lo do universo, mas situá-lo nele. Todo conhecimento, para ser pertinente, deve contextualizar seu objeto. ‘Quem somos nós?’ é inseparável de ‘Onde estamos, de onde viemos, para onde vamos?’”
(Do livro A cabeça bem-feita, de Edgar Morin)
Senso crítico apurado, alta capacidade de resolução de problemas, criatividade e autonomia. São essas algumas das mais importantes competências e habilidades que os cidadãos do século 21 devem ter e que as escolas e educadores devem desenvolver em seus alunos.
Pois bem, analisando o viés curricular de um ensino fragmentado em disciplinas, ficará muito mais difícil atingir esses objetivos. Essas competências e habilidades envolvem interdisciplinaridade e contextualização, que se opõem à essa fragmentação.
Hoje sabemos que boa parte de nossos alunos não consegue relacionar os conteúdos das diferentes disciplinas que aprendem. Dessa forma, como resolver questões da atualidade, por exemplo, relacionadas às mudanças climáticas e à ecologia que são claramente multidisciplinares – envolvendo conceitos de, ao menos, química, física, geografia e biologia – e que são “deste” século?
Esse tipo de abordagem nos remete a reflexões de Edgar Morin que, inúmeras vezes, declarou que a fragmentação do conhecimento em disciplinas, que não se relacionam e não se comunicam entre si, no dia a dia da escola, não nos leva ao verdadeiro conhecimento – que deve ser contextualizado. Para ele, a função da educação é religar os saberes que foram fragmentados em algum momento na escola. “Devemos romper com a separação entre as artes, a literatura de um lado e o conhecimento científico do outro”, diz Morin.
Pode-se dizer que essa fragmentação se iniciou – ou se tornou mais intensa e perceptível – no Iluminismo, onde a ciência ganhou grande destaque.
Essa crítica à fragmentação do conhecimento em disciplinas está inserida no pensamento de Morin para quem, em um sistema complexo, há a participação de vários elementos e o todo não é a simples soma das partes, pois a interação entre elas é parte fundamental do processo.
Imagine, como exemplo, pessoas em um parque onde há árvores, insetos, formigas, lagos etc. Os atores interagem – ou podem interagir – mesmo que cada um esteja no seu “tempo” e “espaço”.
De forma mais simples e resumida, um sistema complexo pode ser definido como um conjunto de elementos que, ativamente, se relacionam entre si, se mantêm constantes ao longo do tempo e formam uma estrutura com alguma função.
Portanto, por meio das novas metodologias de ensino – ensino híbrido, aprendizagem por projetos, laboratórios maker, entre outros – temos um momento (talvez, como nunca antes tivemos!) muito propício para experimentar e vivenciar essa não fragmentação. Ou o chamado “conhecimento pertinente”, proposto como um dos “sete saberes” por Edgar Morin, em um processo de ensino-aprendizagem mais contextualizado e significativo.
Muitos dizem, hoje, que os filósofos gregos do passado sabiam muito de quase tudo. Pois bem, nessa época, não tínhamos a fragmentação das disciplinas que temos hoje e o conhecimento poderia se dar de modo mais contínuo, analisando-se a aprendizagem por esse prisma, sem entrar na discussão das limitações de aprendizado, principalmente tecnológicas, da época.
Não estaria, então, mais do que na hora de termos um currículo mais sistêmico, contínuo, que estimulasse a reflexão, a análise, o lúdico e o senso crítico por meio de temas contextualizados e não de conteúdos fragmentados? Um currículo mais equilibrado, que não separasse as artes, por exemplo, dos conteúdos mais racionais ou lógicos, não seria mais sensato e não estaria mais de acordo com o momento que vivemos?
Esse é apenas um viés que permeia a extensa obra produzida por esse grande pensador – como, por exemplo, o pensamento complexo e os sete saberes – e que é extremamente pertinente ao que se deseja para uma educação mais integral e vivencial voltada para o nosso tempo.
Nossa educação, penso eu, deveria ser mais Rousseau e menos Descartes, ou seja, mais “Existo, logo penso” unindo mais razão e emoção dando asas ao pensamento dialógico de Morin.
FONTE: http://www.arede.inf.br/a-atualidade-do-pensamento-de-edgar-morin/
FONTE: http://www.arede.inf.br/a-atualidade-do-pensamento-de-edgar-morin/
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