Você conhece a Síndrome de Irlen? Se sua resposta for sim, saiba que é um profissional muito ligado aos novos conhecimentos; mas, se sua resposta for não, fique tranquilo: você pertence ao grupo da maioria!
A maioria das pessoas desconhece o que é a Síndrome de Irlen (S.I.). Isso porque, no Brasil, a S.I é conhecida há apenas 5 anos; portanto, temos muito a desvendar. A Síndrome de Irlen (S.I.), também conhecida comodislexia de leitura, é um problema que passa despercebido aos olhos de muitos profissionais, já que possui características muito semelhantes à dislexia.
É uma alteração do processamento visual, de ordem hereditária e genética, causada pelo desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz. Isso produz alterações visuo-perceptuais, causando dificuldades principalmente com a leitura. Segundo dados do Hospital de olhos de Minas Gerais, de 2015, a prevalência da S.I. é maior do que a dislexia, sendo 4 para cada 10 crianças.
Fique atento aos sintomas mais comuns:
- Cefaleia (dor de cabeça),
- Coceira nos olhos,
- Os olhos lacrimejam,
- Enjoo,
- Intolerância à luz/ desconforto causado pela luz solar,
- Dificuldade visuo-espacial,
- Dificuldades de aprendizagem,
- Problemas significativos com a leitura: leitura fragmentada, omissão ou troca de letra, as letras parecem pular ou ficam distorcidas, costumam perder ou pular linhas na leitura de um texto,
- Muita dificuldade em manter o foco e a concentração num texto lido,
- Insegurança com esportes de bola e também ao descer e subir uma escada rolante,
- Sonolência e distração.
A observação em sala de aula é fundamental para o apoio do diagnóstico precoce. Se o seu aluno possui alguma destas características, suspeite e o encaminhe para uma avaliação psicopedagógica (leia mais sobre quando encaminhar a criança a um especialista aqui).
Os profissionais da escola devem saber que crianças com S.I. enxergam bem e não percebem que possuem estas alterações ou distorções na visão – o que significa que, ao serem encaminhadas ao oftalmologista, a avaliação poderá ser “normal”. A S.I. é detectada através de um exame de processamento visual realizado por um profissional da saúde ou de educação devidamente capacitado. Os profissionais que recebem este treinamento são chamados de Screening.
O momento ideal para se identificar a síndrome é por volta dos 6 ou 7 anos de idade, por ser a fase inicial de aquisição da leitura e escrita. E aí, fica o questionamento: quantos alunos são confundidos ou ligados a adjetivos negativos (preguiçoso, desmotivado, entre outros) como consequência de um diagnóstico falho?
Observe os principais sinais da S.I. que podem ser detectados em sala de aula:
- Por conta da fotofobia (sensibilidade à luz), a criança costuma demonstrar uma percepção de brilho excessivo ao usar as folhas brancas, o que atrapalha o desenvolvimento da leitura escrita,
- Faz uma leitura fragmentada ou silabada,
- Na escrita, as letras podem estar grafadas de maneira tremida ou flutuantes, fora das linhas,
- Costuma pular linhas ou pedaços do texto no momento de uma leitura. É possível perceber este fato quando a criança lê em voz alta ou apresenta problemas com a interpretação de texto,
- Perda freqüente da atenção em situações de leitura,
- Estresse visual, ou seja, o aluno pisca muitas vezes, os olhos lacrimejam ou ainda coçam e protegem os olhos.
O tratamento realizado baseia-se no uso de transparências coloridas, também chamadas de “overlays”, para a leitura de textos em papel ou no computador/tablet, que neutralizam o contraste luminoso. Para cada pessoa utiliza-se uma cor diferente após a avaliação do processamento visual.
Existem óculos, por enquanto, produzidos apenas nos Estados Unidos, com a coloração das lentes específica à necessidade do sujeito. Infelizmente, eles continuam sendo inviáveis para boa parte das famílias, não só pelo custo, mas também porque o grau da criança ainda é instável.
Como adaptar as atividades em sala de aula? Confira algumas dicas:
- Primeiro passo: aproxime-se sempre do seu aluno. Muitas vezes eles nos dão pistas sobre o que fazer.
- Vale ressaltar que a S.I. não tem nenhuma relação com a inteligência. As dificuldades explicitadas são extintas com o uso das transparências ou lentes específicas.
- Motive o seu aluno o máximo que puder, pois, quando ele se sente acolhido e seguro, consegue driblar melhor algumas dificuldades. É muito comum que estas crianças tenham uma inteligência acima da média, já que precisam o tempo todo de um esforço muito maior que os demais para resolver situações-problema.
- Cuidado com o contraste da folha e do texto (claro e escuro – preto no branco). Use o texto de cor escura em um fundo claro (não branco). Se você já souber qual é a cor de conforto da criança, utilize-a sempre, seja através da mudança de cor da folha, seja com o apoio das overlays.
- Se a criança ainda não tem a overlay, as pastas plásticas coloridas, conhecidas como pasta em L no Brasil, também podem ser utilizadas na adaptação das atividades de leitura. Para a escrita, utilize as folhas de sulfite coloridas ou outro tipo de papel, também com alguma cor. Dê preferência a papéis mais espessos e foscos, para evitar que o outro lado fique transparente… nada de brilho!
- Use e abuse das figuras para explicar novos conteúdos ou reforçar conteúdos antigos.
- Evite palavras sublinhadas ou em itálico. O negrito é bem-vindo.
- Aproveite as atividades que envolvam o pensamento e o raciocínio lógico, pois, em grande parte das vezes, crianças com S.I. possuem habilidades nesta área.
- Utilize jogos como o quebra-cabeça e peças tridimensionais.
- Explore a criatividade da criança.
- É necessário, sempre, descobrir como o aluno aprende melhor (tendo ele S.I. ou não). Perceba como ele prefere aprender, se gosta de explorar, sentir, ouvir ou ver. Isso ajuda muito!
Utilize programas para o computador ou tablet como: Irlen Colored Overlays – para computadores e notebooks (tem um pequeno custo); Irlen Colored Overlay App – para Smartphone android e tablet (tem um pequeno custo); Color Overlay, ferramenta de sobreposição de cor que pode ser adicionada ao Google Chrome através do painel de administração do Google Apps (este recurso é gratuito e muito bom, utilizado apenas em ambiente web); Ssoverlay – semelhante ao Color Overlay, do Google, porém para ser utilizado no Windows. Bem interessante e gratuito.
Texto: Luciana Fernandes Duque para a Eduqa.me. Luciana doutoranda em Educação Especial – Faculdade de Motricidade Humana pela Universidade de Lisboa – Portugal, Mestre em Educação – Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Psicopedagoga Clínica e Pedagoga com vasta experiência Educação Inclusiva. É autora de dois livros, um sobre inclusão escolar e outro sobre relação professor aluno. É responsável pela fanpage Luciana F Duque Psicopedagogia e Inclusão.
Fonte: http://naescola.eduqa.me/
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