sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Educação infantil: adoecendo com a “idade certa”

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Há uma febre para que as nossas crianças “aprendam na idade certa”. A “idade certa” é definida como aquela que os organizadores de currículos, reformadores empresariais e alguns pais fixam, à revelia da evidência científica disponível, e que arbitrariamente determina um tempo fixo para “assegurar os direitos de aprendizagem” das crianças.
Isso induz a antecipação da escolarização nas escolas infantis e, pior, coloca como critério de êxito a idade e não o desenvolvimento particular de cada criança. Sob pressão da meritocracia, os professores são estimulados a “puxar” as crianças segundo patamares uniformes, construídos sem base empírica consistente, em muitos casos expressos em materiais apostilados de ritmo único. Um verdadeiro massacre.
Um livro recentemente publicado nos Estados Unidos vem contrariar esta tendência e confirmar as preocupações dos professores da educação infantil com relação a estas pressões sobre as crianças e é contundente em mostrar que acelerar a educação das crianças em idades precoces pode ser problemático.
O novo livro é escrito por Stephen Camarata (The Intuitive Parent: Why the Best Thing for Your Child Is You) e acaba de ser publicado. Examina a pesquisa na área e afirma que acelerar o desenvolvimento das crianças precocemente é contraproducente podendo produzir transtornos de déficit de atenção.
Para o autor:
“Dada a mania de empurrar as crianças para aprender mais e mais conceitos complexos e em idades mais precoces, você pensaria que certamente deve haver uma vasta literatura científica que apoie estes esforços. Não só não existem tais dados, mas um conjunto emergente de pesquisas indica que as tentativas de acelerar o desenvolvimento intelectual são, na verdade, contraproducentes.”
O autor ainda acha que existem duas dificuldades principais que os pais devem considerar na educação moderna: 1) um currículo cada vez mais irracional, acelerado, com pressões para que as crianças aprendam e pais pragmáticos que querem ensiná-las muito antes de que suas mentes em desenvolvimento estejam prontas; e 2) um processo do tipo “uma mesma medida para todos”, como uma linha de montagem, com base no nível de idade, em vez de considerar o nível de desenvolvimento. Um claro alerta para os adeptos da “aprendizagem na idade certa“.
Nada de novo para os professores que trabalham na educação infantil. Mas algo não levado em conta por pais ansiosos de criar super-cérebros e por reformadores empresariais que apostam na corrida para o topo como forma de aumentar a qualidade da educação.
O Estadão também veicula matéria que destaca a necessidade das crianças terem tempo livre para brincar. Embora a matéria não faça uma crítica à antecipação da escolarização, os depoimentos apresentados caminham nesta direção. Os educadores consultados alertam:
“Nas escolas, predomina a ideia do ensino centrado no professor e as brincadeiras livres costumam ser vistas como lazer, ignorando seu valor na promoção de importantes aprendizagens, ainda que fora do menu pedagógico.”
“Principalmente em relação às crianças de 5 anos, os pais ficam muito ansiosos de que eles estejam lendo e escrevendo. Precisamos de reuniões extras para que eles diminuam essa ansiedade”, explica Liliane. “Quando elas brincam, aprendem a resolver os problemas. E essa é a meta da vida.”

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